Se distraia, porque eu vou explicar isso um milhão de vezes: monogamia não é o mesmo que exclusividade, não é o mesmo que ter uma só relação, não é o mesmo que gostar de uma pessoa só de cada vez. Nada disso jamais passou perto de ser monogamia. E isso foi EXAUSTIVAMENTE explicado pela crítica à monogamia, você apenas não prestou atenção.
Por que, então, as pessoas ainda confundem monogamia com exclusividade, insistentemente, em praticamente todas as discussões sobre o assunto, e inclusive nos próprios grupos de não-monogamia?
Sim, só pode ser porque as pessoas não estão lendo Descolonizando afetos, da Geni Nunez. Ela explica maravilhosamente bem, de forma simples e elegante. Não quer dizer que ela seja a dona da verdade, iluminada que compreendeu a realidade melhor do que todo mundo. Ela não está dizendo uma verdade absoluta. Pelo contrário. Ela está criticando uma. Ela pode estar errada, mas pra discordar é preciso entender. E eu estou aqui somente pra explicar por que você não entendeu ainda.
Em parte, é porque você não quer, porque eu sei que você é inteligente o suficiente, e eu sei que a Geni está sendo o mais didática possível. Mas falar de monogamia mexe em sentimentos profundos que a maioria das pessoas não está pronta pra mexer. Não é culpa sua nem dela. A culpa é da ideologia dominante, que no caso dos relacionamentos, é a ideologia monogâmica.
A ideologia monogâmica defende que a monogamia é um tipo de relação perfeitamente normal, válida e saudável, que acontece de ser estragada por qualquer outra coisa, menos pelas suas próprias condições. Se uma relação monogâmica é ruim, não é por ser monogâmica, é porque faltou diálogo, faltou ética, paciência, compatibilidade ou algo do tipo. O mesmo acontece com outras formas de opressão que sustentam a sociedade de consumo. A ideologia dominante considera que o problema nunca é o capitalismo, é sempre outra coisa. Quem não entendeu Marx acha que capitalismo pode ser ético. Quem não entendeu Geni acha que monogamia pode ser ética.
A ideologia monogâmica define monogamia como "uma única relação" e isso não faz absolutamente nenhum maldito sentido. As pessoas PODEM escolher ter uma única relação na não-monogamia, desde que isso seja voluntário. Isso é evidente, pois:
1. Monogâmicos não deixam de ser monogâmicos quando estão em mais de uma relação. Monogamia não desaparece com a traição, nem de fato se opõe a ela. Pelo contrário, a maioria dos monogâmicos trai. Na materialidade monogâmica, traição é regra, não exceção.
2. Não existe uma regra de que você só pode ser não-monogâmico se estiver com mais de uma pessoa. Uma pessoa não-monogâmica pode se atrair somente por uma pessoa e querer ficar somente com ela, obviamente. Ela só não pode achar que tem o direito de exigir o mesmo da outra pessoa. Se ela encontrar outra pessoa que por acaso também só quer ficar com ela, teríamos aí um relacionamento não-monogâmico que envolve apenas duas pessoas, sem nenhum problema.
Exclusividade não é monogamia. Monogamia não é exclusividade. E se isso pareceu confuso, leia de novo até entender, porque não tem como explicar isso de modo mais simples e direto: tentar associar uma coisa à outra leva, necessariamente, a uma confusão conceitual: não sabemos distinguir o que é monogâmico e o que não é somente pela exclusividade. Se eu te pergunto se seu carro é flex, e você me responde: “eu só coloco gasolina”, você não está respondendo minha pergunta. A possibilidade de outro combustível existe, ou não existe? Se existe, não importa se você só coloca gasolina, seu carro é flex, não é mono.
Tem um monte de gente por aí se dizendo muito monogâmico e logo depois diz: mas não estou impondo nada, a pessoa fica comigo porque quer! É mesmo? E você abre espaço pra conversar sobre isso no seu relacionamento? Se sim, os monogâmicos raiz já vão te taxar de corno manso, e dizer que você não serve pra ser monogâmico. Seu pé está pra fora da monogamia, pois nitidamente ela é insuportável, mas você não quer sair do armário porque tem medo do peso que significa nadar contra a corrente monogâmica, não é? Você tem medo de pessoas falarem PARA VOCÊ o que você diz para não-monogâmicos. Tem medo de virar o oprimido da opressão que você mesmo ajudou a realizar.
Além disso, tem o problema de precisar ter sexo para chamar algo de “relação”. Se você entende que toda relação é relação, incluindo com seu filho ou com seu gato, cadê sua exclusividade agora? Você diz “ele só quer sexo”, porque a única coisa que você enxerga numa relação, além do sexo, é a obrigação de exclusividade. Cadê essa obrigação nas outras relações? Seus amigos podem ter outros amigos? Mas você não disse inclusive que seus amigos vinham primeiro? Ora, se a amizade é tão importante, cadê seu amor pelo seu amigo, se você sai com outro amigo? Seu promíscuo! Isso nem é amor de verdade, você só quer uma relação superficial com seu amigo, não é?
Não, não é. O problema está na estrutura da frase, independente do conteúdo. O pensamento monogâmico, além de tudo, é incoerente. Monogamia não é uma sexualidade nem uma forma de se relacionar: é uma expectativa. Uma expectativa que, na maioria das vezes, não vai ser cumprida. A pessoa pode não ter nenhuma intenção de se apaixonar por outra, mas acabar se apaixonando. Por isso não faz nenhum sentido dizer que uma relação monogâmica é, por definição, uma relação de exclusividade. O que define monogamia não é a exclusividade, nem mesmo a prioridade, é unicamente a limitação da autonomia da outra pessoa sobre seus próprios desejos e seu próprio corpo. Você quer o lado bom de namorar, sem o ruim? Sim, e se você quer minha liberdade em troca do seu amor, o nome disso é chantagem emocional.
A liberdade de escolher com quem você quer ficar não implica em ter que escolher mais de uma. É liberdade, não obrigação. Se eu tenho autonomia pra sair de casa, continuo tendo essa autonomia quando resolvo ficar em casa. Duas pessoas podem ficar só entre si a vida inteira, é raro mas totalmente possível. Mas se havia real possibilidade de ficar com outra sem isso ser considerado traição, o que diferencia esse casal de outro que não é monogâmico e, por falta de oportunidade, fica somente entre si?
Entendendo isso, entenderemos porque a monogamia não pode ser ética. Quando as pessoas defendem relações éticas, saudáveis e de respeito mútuo, na qual a possibilidade de interesse por outra pessoa não será uma dor de cabeça, não estão defendendo a monogamia, e sim a exclusividade voluntária, que, como espero já ter demonstrado, não pode ser a mesma coisa que monogamia, porque também acontece na ausência de monogamia. Se você tem um fenômeno que aparece tanto na presença quanto na ausência de certa condição, e você chama o fenômeno pelo nome dessa condição, você está simplesmente equivocado. Não é questão de opinião, é questão de lógica.
Também não faz nenhum sentido pensar a monogamia como uma "necessidade especial” de exclusividade. Você pode precisar de mais intimidade num momento, e no outro não. Eu posso ficar com só com homem por 10 anos e só com mulher por mais 10 anos, mas sou sempre bi. Então, não tem como identificar a monogamia identificando somente a exclusividade. Monogamia é uma convicção de que o relacionamento deve ser preservado independente dos desejos ou dos comportamentos que o complicam. Isso fica evidente quando uma traição acontece e o casal resolve que é mais importante ficar junto. Monogâmicos sendo monogâmicos, porém com um lapso na exclusividade. Se fossem não-monogâmicos, aquele ato em si não seria traição, não geraria crise no relacionamento. Chifre é coisa de monogâmico. A não-monogamia exige diálogo constante, porque o relacionamento está sempre sendo construído, nunca está garantido pela falsa estabilidade dos acordos.
Se você considerar monogamia como "ter uma única relação", as pessoas monogâmicas seriam uma minoria absoluta. E aí não faria sentido estarmos aqui criticando essa minoria. Se, pra definir monogamia corretamente, você tem que fazer todo o malabarismo de distinguir a ordem de importância de cada tipo de relação na sua vida, é porque tem algo errado.
Quando eu digo que nem os não-monogâmicos, nos grupos de estudo de não-monogamia, entendem isso, eu não estou brincando nem exagerando. Muitos ainda não entenderam que diabos é isso que eles dizem negar. Algumas feministas defendem a monogamia, mesmo que parcialmente. E esse é um dos raros momentos que eu posso dizer: elas estão erradas. Não é uma questão de querer saber mais que elas, é uma questão de usar uma definição concreta de monogamia. Não se pode definir monogamia por autoidentificação somente. O conceito precisa se ligar à materialidade. Quando se liga à historicidade da monogamia, se liga também à historicidade do patriarcado. Por isso feminismo monogâmico é como anarco-capitalismo. Só parece ter sentido quando não se tem precisão teórica. Não tem como ser feminista defendendo uma ferramenta do patriarcado. A monogamia está implicada na estrutura da sociedade que legitima a mulher “com dono”, e violenta a mulher sem dono. A monogamia é uma violência.
Alguns podem objetar, citando Beauvoir, que não existe relação humana sem algum tipo de relação sujeito-objeto, ou seja, sem algum tipo de objetificação, e que o máximo que podemos fazer é trocar os papéis de vez em quando, mas não tem como fugir completamente da relação sujeito-objeto. Uma hora estamos por cima, outra por baixo, e não dá pra manter o tesão só de ladinho. E eu concordo, mas isso não tem nada a ver com monogamia. Essa ideia é válida para o poder no sentido amplo, e a relação de autoridade que existe na monogamia não é um tipo qualquer de poder, é um modelo de propriedade. Você pode, certamente, brincar de ser propriedade de alguém, numa prática BDSM por exemplo, desde que consentido e com segurança para você sair daquilo a qualquer momento. E a maioria dos praticantes de BDSM é não-monogâmica. Quando eu falo que não existe monogamia ética, é porque você não pode escolher sair a qualquer momento. Se a porta estivesse aberta, não seria monogamia. A monogamia é justamente o que te prende na relação CONTRA a sua vontade, só porque em algum momento você disse sim.
Se você troca a palavra "monogamia" pela palavra "exclusividade", a maioria das tretas sobre monogamia na internet somem no ar, porque não são tretas sobre monogamia, são tretas sobre exclusividade. Precisamos começar a discutir monogamia, mas antes precisamos finalizar essa discussão boba sobre exclusividade. Ninguém está criticando a exclusividade, se ela é voluntária. Você é contra o aborto? Não aborte. É contra a maconha? Não fume. É contra a exclusividade? Não a aceite. É a favor? Pratique. É simples. A partir do momento que você exige exclusividade do outro, deixou de ter qualquer coisa a ver com exclusividade voluntária. O que é voluntário não pode ser exigido. As pessoas sabem disso muito bem. É perfeitamente lógico quando se trata de outras relações, como relações de trabalho, por exemplo. O trabalho voluntário não pode ser trabalho escravo. Mas quando se trata de relacionamento, acontece algum fenômeno mágico, que faz o tico e o teco das pessoas travarem. O que está acontecendo? Bem, não sabemos ainda, não estudamos isso direito. Mas aqui vai uma hipótese: é uma dissonância cognitiva.
Dissonância cognitiva é um conflito entre o que uma pessoa pensa, sente e faz. É um viés cognitivo que ocorre, por exemplo, quando você trabalha em algo que não gosta, quando você compra algo que não queria estar comprando, ou vota num político no qual não queria estar votando. Mas se alguém chega e diz que você não deveria fazer aquilo, você se irrita e começa a criar teorias pra se justificar, porque o cérebro tem dificuldade de lidar com esse conflito interno.
É uma pane no seu sistema. Mas fique tranquilo, vamos te ajudar.
Sabe quando você acredita ser honesta, mas mente para não dar explicações? Sabe quando você se depara com uma cultura empresarial que não condiz com os seus valores, mas veste a camisa da empresa mesmo assim?
A teoria da dissonância cognitiva explica que as pessoas buscam informações para confirmar suas decisões ou mudam suas atitudes para se conformarem com elas. É isso que defensores da monogamia parecem estar fazendo.
Para resolver isso, precisamos conhecer a origem desses vieses cognitivos monogâmicos, entender como eles se manifestam no seu cotidiano, considerar as outras possibilidades de forma mais razoável e criticar nossas próprias crenças.
Se você quer a exclusividade de alguém, custe o que custar, então admita isso. É um ótimo primeiro passo. É melhor do que esperar que ela dê voluntariamente, e se irritar se ela não der. Mas se não quer forçar ninguém a nada, então seria melhor reavaliar se a monogamia é pra você, a não ser que queira ficar a vida procurando o príncipe encantado da exclusividade voluntária.
Ninguém está te forçando a nada, mas se você quer forçar alguém à exclusividade, provavelmente você vai precisar de monogamia raiz, controladora e manipuladora mesmo. Se está disposta a isso, talvez consiga o que quer da monogamia. Senão, lamento te informar, mas você vai se frustrar.
Eu entendo o desejo de querer que alguém te trate como prioridade. O que precisa ser compreendido é o quanto isso é raro. A maioria das pessoas promete isso porque reproduz o discurso do amor romântico, mas não é isso que elas querem de fato, e isso fica evidente no comportamento. Se entende o problema e mesmo assim quer tentar, boa sorte, torço por você. Agora, se você fica com alguém, a pessoa gosta de você, você gosta dela, mas você exige a exclusividade dela pra esse afeto continuar rolando… Isso não é ético. E se a pessoa reclamar, ela que está errada? Troque “liberdade” por qualquer outro bem que a pessoa tenha, e você vai perceber o erro. A cultura capitalista normaliza tratar a liberdade como moeda de troca para condições básicas de sobrevivência. A cultura monogâmica normaliza tratar a liberdade como moeda de troca para condições básicas de afetividade e relacionamento profundo.
É óbvio que sempre houve, e sempre haverá, pessoas se relacionando de modo exclusivo. Se isso é voluntário, qual é o problema? Só que, se é voluntário, qual a relação disso com a monogamia? Monogamia surgiu pra forçar união independente da vontade. Se não fosse por isso, nunca teria sido inventada. Você tem liberdade para querer uma pessoa só, mas não pra diminuir a autonomia dela sobre o próprio corpo e desejos. Não-monogamia não é sobre criar acordos de casal para ficar com outras pessoas. Isso é apenas monogamia sem máscara. Se tem acordo restritivo e poder de veto, é apenas “monogamia com benefícios”.
Vejo pessoas dizendo que estou sendo muito autoritário e impondo um conceito muito limitado de monogamia, porque na prática isso não funciona, e sempre precisamos de algum grau de exclusividade autoritária para criar intimidade com a pessoa, como numa relação entre adulto e criança. Esse é um argumento autodestrutivo, pois se aceitamos a verdade da premissa, se de fato precisamos dessa autoridade, o que nos fez precisar dessa autoridade? A natureza ou a cultura? Se é a natureza, não há mais possibilidade de crítica radical à monogamia, pois a monogamia, em si, não seria mais um problema social, e sim uma característica das relações humanas. O problema seria apenas o grau, e aí deveríamos todos sermos monogâmicos reformistas. Se é a cultura, então podemos mudá-la, e esse deve ser o objetivo político da não-monogamia.
Nós criamos o capitalismo, como criamos a monogamia. Se vivemos numa sociedade na qual as relações não se sustentam se não tiverem algum grau de perda da autonomia, algo deu errado no processo histórico que criou essa sociedade. Que outro nome dar a esse erro, senão monogamia?
Uma pessoa que tem um atravessamento difícil, com traumas e falta de privilégios, não vai ter poder algum para impedir outra pessoa de traí-la. Não faz sentido ela “buscar proteção” na monogamia, porque a monogamia não dá poder ao mais fraco. Se ela precisa de exclusividade para evitar um sofrimento psicológico maior, ela deve buscar uma pessoa DISPOSTA a dar essa exclusividade, e entender que ninguém pode prometer não se apaixonar por outra, mas pode prometer não mentir e respeitar os limites da pessoa. Isso é o máximo eticamente possível. Essa pessoa pode ser monogâmica ou não, a chance dela dar exclusividade é A MESMA, pois não há relação direta entre monogamia e exclusividade. Logo, não faz sentido procurar uma pessoa monogâmica porque você quer ou precisa de exclusividade. Há zero monogamia pressuposta na exclusividade, e zero exclusividade pressuposta na monogamia.
A estratégia de cuidado não pode ser chamada de monogamia. Pelo contrário, ela pode estar ainda mais presente entre as pessoas que questionam monogamia, porque elas discutem seriamente a questão da responsabilidade. A não-monogamia não faz diferença entre pessoa “pra casar”, que é digna desse respeito, e pessoa “pra pegar”, a quem não devo satisfações. A mesma responsabilidade é exigida em todas as relações. Por isso mesmo não é possível monopolizar a atenção de uma pessoa adulta, que na maioria das vezes já está enredada numa série de relações e responsabilidades. Por isso tantos monogâmicos querem novinhas. É realmente muito mais confortável quando a pessoa está 100% disponível para nós, mas essa não é a realidade das pessoas adultas.
Monogamia é uma questão de poder. As pessoas com menos poder na nossa sociedade provavelmente nunca experimentarão a exclusividade, seja ela monogâmica ou não. Não há acesso à exclusividade monogâmica, porque o mais fraco não tem o poder de evitar que a outra pessoa traia. E não há acesso à exclusividade não-monogâmica, porque ela é muito rara: precisa acontecer espontaneamente, e geralmente dura pouco tempo. A grande maioria das pessoas quer receber exclusividade, mas não dar. A mulheres em geral se esforçam mais que os homens para dar o que querem receber, a ponto de acreditarem que é isso que elas genuinamente querem. Provavelmente não é isso que elas iriam querer se vivessem numa sociedade onde uma mulher pode andar sozinha na rua sem sentir medo. Não é um desejo genuíno, ele é condicionado pelo machismo.
O vulnerável não consegue forçar o forte a cuidar dele. Do mesmo jeito que, sem explorar ninguém, eu nunca vou experimentar o que é ser rico. Eu posso me esforçar no trabalho, mas chegar lá exige um poder que eu não tenho, nem quero ter. Logo, morrerei sem saber o que é ser rico como as pessoas que admiro nos filmes. Quem tenta te convencer a continuar acreditando que basta mudar sua mentalidade para conseguir o que quer são os charlatões que chamamos de coach. A cultura monogâmica faz coach monogâmico por meio de músicas, filmes e outros produtos culturais. Ela vende a promessa de que todo mundo pode alcançar algo que é mais raro que ganhar na loteria. É uma enganação que causa sofrimento social para um incontável número de pessoas, e nós simplesmente normalizamos.
Não existe justificativa ética para a monogamia, como não existe justificativa ética para coaching de prosperidade. Não importa de onde a pessoa tenha vindo. Prometer "monogamia" para as pessoas sem poder é tão ilusório quanto prometer riqueza. As pessoas não deveriam estar indo atrás de monogamia pra ser feliz, e sim de terapia, pra entender que a monogamia só funciona para quem tem poder sobre o outro.
O propósito da não-monogamia política não é uma sociedade de relações sem exclusividade, mas sim a liberdade escolha. Não tem como escolher livremente a monogamia. Apenas tente, e o que você vai ter será algo idêntico à exclusividade não-monogâmica. Não acredite e mim, vai lá e confira.
Por isso não faz sentido acusar a não-monogamia de impor alguma coisa. Não tem como forçar uma pessoa a ser livre.
Eu queria que isso entrasse na cabeça das pessoas, mas eu sei que não vai. Vão me encher de perguntas, vão me encher de comentários, e encherão meu saco na internet e ao vivo, e se eu fizesse um curso online pra explicar isso, me pagariam pra eu repetir isso de novo e de novo em todas as combinações possíveis de palavras, e ainda iam sair agradecendo. E isso é horrível, porque é algo tão simples. A única dificuldade é simplesmente largar sua certeza sobre a monogamia por cinco minutos. Cinco minutos sem segurar ela no colo, pode fazer isso? Não, não pode. Você prefere pagar uma pessoa pra ir lentamente tirando ela de você como se fosse uma bandagem num ferimento exposto, ou então reclamar que isso parece autoritário, ou explicar que você não conseguiria.
Pare de fingir que está sendo oprimido pela não-monogamia e entenda o que é monogamia antes de falar alguma coisa. Se conseguir mostrar onde estou errado, eu vou adorar isso. Mas se não conseguir, pare de se esconder atrás de supostas críticas a algo que você mesmo não entende. Você não está fazendo uma crítica, está só esperneando como uma criança que perdeu seu brinquedo favorito.
E isso não é indireta pra ninguém, é uma direta pra todo mundo. Leia Descolonizando afetos antes de responder. É o mínimo.
Colaboração:
Vinícius Dantas, militante da não-monogamia política, me ajudou na elaboração desse texto por meio de uma discussão sobre o assunto, e não necessariamente concorda com as minhas afirmações.
Finalmente alguém definiu a minha relação: "monogamia com benefícios" rss As vezes a necessidade de um certo tipo de pseudo controle de algumas situações se sobressai ao ter ou não exclusividade. "Abrimos a relação" espontâneamente, mas concordo que ainda não posso dizer que vivo uma relação não monogâmica. Existe uma prioridade hierárquica (eu sou a "esposa/marido" as outras relações teoricamente são menos importantes) Existem acordos, por exemplo: "Ele/Ela vai ficar com outra pessoa, maaaas, "tem" que me contar, avisar quando, dizer quem é) parece horrível né? Kkkk Na prática nem tanto mas ainda estamos testando mudar isso. Mas o fato de ser difícil mudar, não quer dizer que eu não concorde com você sobre o que é a monogamia. Mas vou ler o livro antes de comentar mais alguma coisa. Gostei muito do texto. Como costumam dizer atualmente: alugou um triplex na minha cabeça" essa semana kkkk